Histórias de sucesso #125: Rafael da Silva Melo Glatzl - Aprovado no concurso de Juiz Substituto do TJPR
01 - Concurso(s) para magistratura qual(is) foi aprovado:
R: Juiz de Direito no Tribunal de Justiça no Paraná (2019)
02 - Outros concursos em que foi aprovado:
R: Técnico Administrativo em Educação – C na UFJF (2014), Professor Substituto de Direito na UFJF (2017), Escrevente Técnico Judiciário do TJSP (2018), Analista Jurídico do MPSP (2018/2019), Defensoria Pública do Estado de São Paulo (2019)
03 - Período de estudos até a primeira aprovação em concursos de magistratura:
R: Desde que retomei o foco total para concursos em janeiro de 2018, foram mais ou menos 2 anos (as provas orais da Defensoria e TJ se encerraram entre setembro e outubro passados, e a oral para promotor do MPSP seria em fevereiro de 2020, mas eu resolvi abrir mão por uma série de razões). Durante a faculdade (2010-2014) eu fiz alguns concursos, como técnico do MPU, TRF e STM, sem foco algum. acabei classificando ou ficando habilitado, mas muito longe das vagas, então nem conto como efetiva aprovação. Fazia um estudo esparso e sem método, sem objetivos definidos e sem ter como prioridade a aprovação, experimentando outras oportunidades que a vida trouxe. Quando me formei em Direito na UFJF, em 2015, resolvi fazer mestrado em Portugal, e acabei direcionando meu foco para a vida acadêmica. Só mesmo em início de 2018, após já ter encerrado o mestrado e extraído tudo o que era proveitoso da experiência, após já ter vivido a experiência da advocacia intensamente, em todos e seus prós e contras, e mais em especial após o término do meu contrato temporário de professor e a chegada iminente dos meus 30 anos (a idade é um detalhe, ok? rs), é que de fato eu entendi qual era o caminho que eu tinha que seguir para atingir meus objetivos de vida e resolvi dedicar tempo integral (ou quase isso) para concursos públicos. A motivação declarada e externada para suportar o processo, desde o início, era ter estabilidade financeira para constituir minha família e dar um conforto pra minha esposa e futuros bebês. Essa idealização de futuro me ajudou a encurtar o processo, certamente, assim como a minha fé.
04 - Trabalhou durante os estudos? Cargo?
R: Sim, exercia a advocacia como autônomo em conjunto à minha esposa, num escritório nosso (com todos os ônus e bônus disso), cujos casos agora estão sob a responsabilidade dela. Durante o período acabei, por alguns meses, trabalhando também em período de experiência num escritório de advocacia privada da minha cidade, na área trabalhista, e também como professor substituto no setor de direito privado da minha universidade de formação, lecionando as matérias mais “amadas” pelos últimos períodos de faculdade, mais especificamente direito das sucessões e direito falimentar e recuperacional rs.
05 - Tempo médio de estudos diário (horas líquidas):
R: Quando resolvi que realmente ia ser um caminho sem volta essa vida de concurseiro, mais especificamente em janeiro de 2018, quando eu e minha esposa (também concurseira) resolvemos casar, eu passei a estudar entre 8 a 10 horas diárias na média, domingo a domingo, sem feriados. Pensava que era a forma de compensar estar fora do jogo por tantos anos, e também por conta da pressão advinda do fato de que reserva financeira que tinha feito estar indo por água abaixo muito mais rápido do que o planejado (calculei mal, bem mal os custos e investimentos necessários para comprar material e fazer viagens pra concursos em casal, rs).
Em alguns dias não conseguia estudar nada por conta de audiências cansativas de instrução e cumprimento de prazos processuais nos processos que patrocinava. Costumava esperar acumular um pouco e focava em dar conta de tudo que envolvia o escritório no mesmo dia para não ficar demorando demais e distraindo, evitando pensar que deveria estudar naquele período para alcançar meus sonhos mais rapidamente. Costumava também tirar alguns dias, dois ou três, no período imediato pós viagens para outros Estados para fazer prova, que eu chamava de tempo de “descompressão”, pra poder voltar ao ritmo mais descansado. Dava uma passeada na cidade, fazia um turismo rápido, comia algo diferente, pegava uma praia quando tinha, encontrava algum amigo. Aliás, lidar com tranquilidade, ética e empatia com esses momentos de provação ajuda. Em quase todas as provas que fiz nesse período, conheci pessoas especiais e concretizei diversas grandes amizades que levarei para a vida toda. Foram pessoas especiais e dias de descansos essenciais que ajudaram a manter um mínimo de sanidade nos momentos mais difíceis.
Em tempos das retas finais de segunda fase e prova oral, pelo pouco tempo relativo que eu tinha de estudos, cheguei a fazer extenuantes 12 horas diárias, praticamente desmaiando de cansaço ao final do dia de reclusão para repetir o processo no dia seguinte. Períodos tensos demais, mas que no fim valeram a pena.
06 - Quantas matérias diferentes lia por dia? E em uma semana?
R: Em regra, por volta de duas matérias. Mais do que isso sentia que a cabeça ia embolando, não conseguia focar muito em ficar “trocando o chip”. Às vezes, fazia questões de outras matérias diferentes ao fim do dia, antes de dormir, só para manter o contato. Nas fases posteriores, cheguei a ler uma matéria apenas em livro, de capa a capa, por uma semana inteira. Por exemplo, pré-prova oral do TJPR e DPESP fui cobrir deficiências e li capa a capa, continuamente, o livro de Tributário do Ricado Alexandre, de Ambiental do Frederico Amado, de Direitos Humanos do André de Carvalho Ramos e de ECA do Valter Kenji Ishida, além de materiais de humanística. Pré segunda fase do MPSP, li os livros do Renato Brasileiro e Cleber Masson pra estar mais pronto para a peça de penal. Tudo tem seu momento. Na véspera das orais, passei o olho em resumos de 8 matérias no mesmo dia.
07 - Estudava sábados/domingos/feriados?
R: Sempre que possível, religiosamente. Entendo quem não consiga se dedicar aos estudos todos os dias da semana e precise de ao menos um dia livre, como os domingos. O processo é muito cansativo mesmo. Mas sou capricorniano e obstinado, acho que isso facilitou um pouco as coisas. Tornei todos os dias, na minha mente, em dias úteis. Me desliguei totalmente de calendário, salvo para datas de prova e contagem de prazos profissionais.
08 - Utiliza grupos de facebook/whatsapp para estudar? Acredita que valha a pena?
R: Bem, no início foi importante. Eu tinha dado uma pausa nos estudos desde que formei e estava por fora do que era bom, eficiente ou adequado para um estudo mais focado para os concursos, em especial aqueles de defensoria, ministério público e magistratura. Não tinha muita paciência pra redes sociais na época (meu primeiro smartphone, por exemplo, só comprei em final de 2014), mas tentava filtrar e encontrar o que fosse útil dentro daquele “mundaréu” de informações. Apesar de não ser ativo nas postagens, fazia busca ativa de conteúdos úteis e criei um instagram para acompanhar alguns perfis relevantes de cursinhos e personalidades da área jurídica para ir agregando conhecimentos e técnicas ao meu método de estudos. Foi assim que conheci o dizer o direito do Marcinho, por exemplo, de que nunca tinha ouvido falar até 2018, bem como o próprio Magistratura Estadual em Foco do amigo, que disponibilizou esse espaço para compartilhamento de experiências e me deu alguns conselhos de elaboração de recursos na época das provas discursivas e de sentenças. Também entrei em grupos de questões de concursos durante os últimos anos e, por fim, entrei em grupos de whatsapp com os colegas que iam avançando para as fases ulteriores de concurso. Nessas fases, discursivas e orais, a troca de ideias, materiais e eventuais desabafos com os colegas ajuda muito. Mas em geral, de fato, tem muita distração pra quem quiser procrastinar os estudos. Vai de cada um usar moderadamente e fazer com que essa utilização seja positiva e informativa, motivacional até, e não se deixar abalar por ver que fulano e cicrano passaram ou se sentir mal consigo por não conseguir resultados no tempo esperado. Cada um tem seu tempo (eu acredito no tempo de Deus para todas as coisas).
09 - Fazia resumos/cadernos ou utilizava algum feito por outras pessoas?
R: Não tenho método nenhum pra fazer fichamentos ou resumos próprios. Sou péssimo nisso rs. Utilizei materiais feitos por outras pessoas e cursinhos e fui agregando o conhecimento aos poucos, vendo o que funcionava e o que não funcionava para mim, entendendo o que valia ou não a pena.
10 - Fazia revisões do estudo nos moldes propostos por coachings (24h, 48h, 7 dias etc)? Com qual frequência?
R: No início, para ser franco, eu até tentei fazer com certa regularidade. E isso me ajudou bastante a entrar no ritmo. Depois, deixei de lado e passei a estudar de forma bastante “não linear”, em especial no período em que estava envolvidos em primeiras e segundas fases concomitantemente, focando em aprender e ou solidificar aquelas matérias ou partes de matérias em que tive maior dificuldade de entender e consolidar o conhecimento. Priorizei muita leitura de lei seca e jurisprudência no início, para formar uma base sólida, e depois fui pontualmente agregando doutrina nos pontos em que achava mais necessário, com a leitura de materiais mais densos e específicos para fases avançadas de concurso, bem como alguns livros capa a capa.
11 - Com qual frequência fazia exercícios para prova objetiva?
R: Durante os primeiros meses, todos os dias, domingo a domingo. O número de questões feita, na média, era por volta de 60 por dia. Quando passei das objetivas, gradualmente diminuí esse número até umas 20 questões por dia, finalmente cessando por completo quando chegaram as fases orais.
12 - Com qual frequência lia “lei seca”?
R: Todo santo dia, diminuindo o tempo dedicado a isso quando estava na iminência de fases avançadas de concurso e precisava “tapar buracos” da minha preparação. Nesses períodos, eu costumava pegar doutrina pesada e ler nos livros matérias ou partes de matérias com que não tinha ainda tanto apego e afinidade. Mas a leitura da lei seca é importante em todas as fases, sem exceção. Tem que ler, mesmo aqueles pontos chatos
13 - Com qual frequência lia jurisprudência? Lia diretamente dos sites dos Tribunais Superiores ou através de outros sites (como dizer o direito ou EBEJI)?
R: Todo fim de semana eu buscava me atualizar lendo os informativos comentados pelo Dizer o Direito. No início, como estava consolidando uma base, eu gostei muito e recomendo ler os comentários completos. Lá tem muita informação relevante de letra de lei, várias associações com outros conteúdos e jurisprudência relacionada, e algumas definições dos institutos que são muito boas e relevantes. Além disso, os casos concretos, como explicados pelo Marcinho, ajudam demais a consolidar o entendimento e relembrar sobre o que falava o acórdão que fixou a tese. Acho essencial para quem está começando ou retomando os estudos fazer isso, ajuda demais no futuro. Quando já tinha uma base forte e consolidada, passei a ler somente as versões resumidas, apenas utilizando as mais completas e extensas quando o tema não era muito familiar ou se estava precisando rever o ponto para entender o que estava em discussão. Só em época de proximidade de provas e que o site estava um pouco atrás nos comentários, para evitar surpresas desagradáveis, eu lia no site dos próprios tribunais as notícias dos informativos não comentados, bem como assinava a newsletter e clipping do STF e STJ.
14 - Indicaria algum curso online com foco em magistratura/carreiras jurídicas? Indicaria algum curso de oratória para a fase oral?
R: Nesse período intenso e relativamente curto em que encarei os concursos, tive experiência com vários cursinhos, então vou enumerar na ordem de realização para facilitar. Inicialmente, eu adquiri dois pacotes de material do Estratégia Concursos. O primeiro foi direcionado para Escrevente Técnico Judiciário e o segundo foi para o concurso de Juiz de Direito do TJMG (que acabei não fazendo, porque o tempo não seria minimamente suficiente pra ter alguma chance). O método de organização dos PDFs, na época, me ajudou a ir construindo uma base doutrinária interessante em alguns pontos em que havia mudança de posicionamentos ou novidades dos materiais que tinha lido durante a faculdade. Além disso, eu gostei de ler as questões comentadas no corpo do material como um tempo extra de consolidação (funcionou para mim, mas hoje não recomendo fazer isso). O problema é que eu queria devorar as matérias em sequência, e acaba subutilizando os materiais. Nisso, minha esposa, lá pra agosto de 2018, descobriu que uma conhecida tinha sido aprovada utilizando um método que eu não conhecia, o CiclosR3. Fomos lá ver o que era e acabou que contratamos o serviço de cronograma de reta final para o concurso de Analista Jurídico do MPSP, que foi nossa primeira meta conjunta de estudos. Esse período foi excelente para dar um gás e organizar os estudos pois eu, particularmente, adoro ter metas para cumprir e bater. Me ajudou bastante também a entender a nova realidade dos concursos e as prioridades que eu tinha para aquele momento, como aprender e atualizar a jurisprudência com os informativos, além do acesso à doutrina básica nos materiais disponibilizados pelo cursinho. Mas, avisando, as metas são bem pesadas e é necessário lidar com a ansiedade se não conseguir cumprir alguns dos dias, pois é algo que vai acontecer fatalmente, e faz parte do processo (sugiro terapia rs).
Após o fim do cronograma de primeira fase, e com o êxito na objetiva, acabamos contratando também para a segunda fase o Ciclos, bem como conhecemos e contratamos complementarmente o curso de segunda fase junto ao Mege. Eu, em particular, gostei bastante na época dos materiais, que complementaram e exigiram que eu estudasse certos pontos que estava deixando meio que de lado, embora as rodadas fossem também bastante extensas. Os finais de semana eram, basicamente, para tentar botar em dia e conciliar os dois cursinhos. As questões discursivas propostas foram bem elaboradas, e gostei do acompanhamento pelo grupo de whatsapp com os professores. Até então, entre tapas e beijos (rs), eu e minha esposa estávamos estudando juntos todos os dias, e isso me ajudou muito a ter a rotina, pois ela é bem mais organizada que eu e me ajudou a criar disciplina para conseguir criar e manter o hábito de estudos sem fraquejar.
Quando obtive a aprovação para a segunda fase do TJPR, passei a estudar sozinho e contratei o MEGE, muito bom na época para a área de humanística, a meu ver, pois gostei muito dos materiais e da pessoa do professor Rosângelo Miranda, e também materiais para aprendizado de elaboração de sentenças (comprei o livro de Prática de um dos professores), e também a EMAP, que é a Escola de Magistratura do próprio TJPR, e tinha estudos direcionados e algumas video aulas bem legais que ajudaram no êxito nas discursivas e sentenças. Passei a estudar por alguns livros em matérias que tinha dificuldade, e seguia lendo informativos e jurisprudência.
Conheci o Curso CEI durante os estudos em paralelo para Defensoria, que é o foco da minha esposa, e gostei muito da revisão final que assistimos juntos, tanto da DPESP quanto da DPEMG e, em especial, dos materiais para as fases posteriores da DPESP e da DPEMG. O curso de segunda fase para a DPESP, em especial, foi excelente. Minha esposa fez o curso de Direitos Humanos, então em primeira edição, e ao assistir com ela algumas aulas eu gostei muito. Recomendo para quem não tem muito traquejo na área e que esteja aprofundando pela primeira vez.
Também tive contato com material do Legislação Destacada durante os estudos que envolviam a fase objetiva do MPSP, o qual tenho recomendado fortemente para primeiras fases, bem como materiais e revisões do G7 Jurídico e do Vorne Cursos (atual Lesen) para a continuação do mesmo concurso. Quanto ao G7, destaque para as disciplinas de penal, processo penal, legislação penal especial e difusos, que são os destaques das semanas de atualização e de conteúdo disponível nos instagrams e youtubes dos professores, além dos bons livros das disciplinas. Além disso, menção honrosa ao professor Landolfo Andrade, que me aconselhou e motivou quando estava desanimado por sentir que ia ser reprovado nas sentenças do TJPR. Grande professor e pessoa.
Gostei bastante da organização feita pelo professor Rogério Sanches na segunda fase do MPSP e o acesso em geral aos professores do curso, em especial o professor Henrique da Rosa, que me deu dicas preciosas e puxões de orelha que ajudaram em diversos momentos da trajetória, e não só nesse concurso em específico.
Para as provas orais, não cheguei a fazer curso de oratória com os colegas com os métodos tradicionais, como a Rogéria Guida ou o Júlio César Almeida, mas fiz os simulados presencial e online da EMAP para o TJPR e iria fazer o Curso CEI presencial para a oral da DPESP, mas acabei não podendo assistir o mesmo por motivo de força maior, embora os colegas que foram tenham uma impressão bastante positiva e o material disponibilizado pelo portal tenha sido de excelente qualidade. Também tive contato superficial com resumos do Ouse Saber próximo à prova, e gostei bastante da qualidade do que li com uma amiga.
Se alguém tiver dúvidas pontuais e específicas mais minuciosas sobre alguns dos cursos, materiais ou professores com que tive contato, fiquem à vontade de me mandar direct que eu esclareço.
15 - Indica algum método diferenciado de estudos para alguma das fases (objetiva/discursiva/sentenças/oral)?
R: Primeira fase, hoje, eu usaria um misto de legislação destacada, vade mecum de jurisprudência mais informativos do Marcinho e alguma doutrina básica e de boa qualidade em pontos de maior complexidade, como controle de constitucionalidade em constitucional, a teoria geral do crime em penal e etc, aqueles pontos que tem muita incidência e custo-benefício. Tem que ler a lei seca, gente rs. Não criem resistência a isso, é fundamental mesmo.
A partir da segunda fase, realmente é fundamental fazer o investimento em cursinhos reconhecidos e de boa qualidade para aparar arestas e concretizar o conhecimento dentro das áreas de expertise dos examinadores. Não tem como fugir disso, sério. Parcelem em 10, 12x e se dediquem intensamente aos estudos, fazendo tudo o que for proposto e possível dentro da realidade de cada um.
Prova oral eu não fiz curso de oratória, mas tem muitos aí na praça. É importante fazer simulados com bancas simuladas, para entender o processo, como será e quebrar o gelo, ganhar confiança e tranquilidade, bem como é uma boa trocar ideias e simular online ou presencialmente com colegas (embora eu tenha tido um pouco de preguiça em fazer isso, confesso rs). Eu gosto muito de estudar lendo em voz alta e tive algumas experiências anteriores de audiência, de defesa de tese, de lecionar, então isso me trouxe algum “conforto” na hora de lidar com a ansiedade e a pressão do momento. Mas claro, no 8 ou 80 qualquer um sofre, treme, gagueja. Eu tomei isso como algo natural e deixei o meu eu fluir nas provas, sem pensar muito em técnica, método, respiração e etc e deu certo. Pra mim, eu pensava que ficar pensando muito em método disso, posição da mão daquilo, silêncio aqui, respiro ali ia me dar mais estresse e ia tirar minha naturalidade pra responder, robotizando a coisa. Então eu assumi o risco de ser eu e isso ser bom ou ruim. Deu certo nas duas vezes, graças a Deus. Mas pra quem não sente segurança, é essencial fazer o máximo de simulados e cursos específicos pra área. Ou você tá dentro ou volta pra estaca zero. Tirem o escorpião do bolso (rs), façam dívidas necessárias (de forma controlada e dentro do possível) e deem o melhor nesse momento, sempre. E se possível, façam terapia pra transformar essa ansiedade em algo positivo e não paralisante. O momento é tenso, mesmo. Mas passa.
16 - Estudava a banca/examinadores responsável pela elaboração das provas da segunda fase em diante?
R: Utilizei estudos direcionados e feitos por cursinhos para ter uma ideia do que esperar, mas o fiel da balança, de verdade, foi o estudo e revisão do conteúdo que já possuía. Não dá pra fazer muita mágica nessas fases posteriores, a meu ver, porque o tempo é curto e, em geral, temos que aprender a fazer sentenças e outras peças ligadas às atribuições, técnicas que devem ser consolidadas para que haja qualquer chance de aprovação. Mas ter uma ideia da predileção dos examinadores é fundamental para traçar estratégias de aprender ou aprofundar temas específicos dentro das áreas do Direito, sobretudo quando são pontos bem específicos dentro das grandes categorias. Em alguns concursos esse foco é essencial. Na DPE-SP, particularmente, muito pelo próprio perfil institucionalizado da prova e pela forma de cobrança de conteúdo adotada pelos integrantes da comissão do concurso, coerente com suas predileções pessoais e temáticas já desde a primeira fase, esse tipo de estudo foi fundamental para a aprovação. Nesse ponto, os cursinhos ajudam e muito a focar no que é importante com o escasso tempo disponível.
17 - Se o tribunal é responsável pela elaboração das sentenças e tem um posicionamento diverso do pacificado nos Tribunais Superiores, adotaria qual posicionamento?
R: Adotaria o posicionamento do tribunal, ressalvando expressamente o posicionamento diverso da jurisprudência dos Tribunais Superiores. Entendimentos sumulados ou repetitivos devem ser obedecidos.
Recado para aqueles que ainda estão em busca da aprovação:
R: Eu costumo brincar e comentar com meus amigos e aqueles que acompanharam a minha trajetória de aprovação, nos meus altos e baixos, que a minha história nos concursos poderia se chamar “quem quer ser um milionário”. O que eu descobri com todo esse tempo na área do Direito, desde 2010 até hoje, é que as experiências prévias de cada um possuem um papel fundamental no êxito em concursos, em diversos aspectos e nuances que a gente acaba só entendendo depois de chegar no objetivo. A vida não é linear, as experiências não são lineares, as pessoas são diferentes. Cada um é cada um, cada prova é uma prova. Pra quem acredita, Deus sabe o que é melhor pra você e te dará o que você merece. Não necessariamente quando você quer, no momento em que você espera, mas quando for a sua hora. Acredite em você mesmo e persista. Ame e cuide daqueles que se importam de fato com você. Minha família (natural e por afinidade) e minha esposa foram partes essenciais desse percurso. Sem eles, nada teria acontecido. Sem a Keylla, nada disso faria sentido. Enfim, faça por merecer, faça a sua parte sem se preocupar com o jardim do vizinho e colha os frutos e louros da sua vitória quando ela, indubitavelmente chegar.
Pra quem quiser ler, vou dar a minha trajetória completa de vida profissional como exemplo de como tudo aconteceu pra mim.
Antes de adentrar a faculdade de Direito, curso que eu não queria fazer de jeito nenhum quando formei no Ensino Médio em 2006 (rs), eu comecei e troquei de cursos no ensino superior por duas vezes. Primeiro, iniciei Ciências Biológicas na UFJF em 2008, fiz um semestre e vi que não era o que queria fazer pro resto da vida, então troquei por Comunicação Social – Jornalismo na mesma UFJF, em 2009, afinal, eu gostava de ler, escrever e tinha afinidade com humanas. Estudei um ano de jornalismo e resolvi que não era aquilo, igualmente. Durante os estudos para o vestibular de 2010, enquanto pensava no que fazer e tentava me encontrar na vida, quase fui fazer Engenharia na Unicamp, mas acabei optando por fazer Direito na mesma UFJF, e lá acabei gostando e eventualmente me apaixonando pela carreira Jurídica. Durante a faculdade, fiz o estágio obrigatório da faculdade e tive experiências mais duradouras na área acadêmica, participando de projetos de monitoria de Direito Penal e de iniciação científica em Direitos Fundamentais. Fazia concursos aleatoriamente, estudando após lançamento de edital, mas sem muito crer que era aquilo que eu queria pra minha vida. Gostava mesmo do estudo doutrinário, dos livros densos e das teses complexas, tinha objetivo de seguir a carreira acadêmica. Trabalhei com tradução, com aulas de idiomas. Fugia da prática, por medo de desiludir e abandonar. No último ano de faculdade, me sentia perdido, desesperado por não saber pra onde ir, o que fazer, onde focar.
Formei, e entre a tristeza e os estudos desorganizados pra concursos de outras áreas (cheguei a estudar contabilidade e cia. pra Analista da RFB), acabei encontrando um tipo de “válvula de escape” pra tentar me entender e encontrar o meu caminho: um mestrado em outro país. Aprovado no processo seletivo, peguei as reservas financeiras formadas na faculdade e acabei indo morar um ano em Portugal para fazer Mestrado em Penal na Universidade de Coimbra. Conheci muita gente e muita coisa, tive experiências novas, alterei e revalorei vários aspectos da minha vida, me entendi melhor, conheci minha futura esposa, reafirmei o tal gosto pela área acadêmica. Voltei para o Brasil e aí a realidade bateu, e bateu forte. Estava desempregado, sem saber pra onde ir novamente. O que fazer? Minha esposa estava advogando e, depois de muita reticência, pois eu não queria me entregar ao mundo “prático” do Direito, mas ficar nas pesquisas teóricas, comecei a advogar com ela, inicialmente só pra colaborar. Por uma série de razões, acabei entrando de cabeça na profissão. E aí eu descobri efetivamente o mundo real do Direito, os balcões de secretaria, as audiências, os calotes, as relações tensas com outros profissionais, os problemas com colegas, clientes e os percalços do sistema de justiça. Momentos de alegria, de raiva, de ansiedade, de injustiça, de gratidão. Passei a viver intensamente o Direito na vida prática, concreta, e me apaixonei por isso.
Concomitantemente, fiz concurso para professor substituto em 2017, e acabei sendo chamado para lecionar. Me apaixonei por aquilo tudo, mas não me sentia preenchido por completo. Me sentia tranquilo e falsamente estável, firme que ficaria pelo menos os dois anos e poderia organizar a minha vida, quem sabe planejar um doutorado, bem como tocar a advocacia por não ser dedicação exclusiva. Na virada do ano de 2017 para janeiro de 2018, por conta de concursos realizados para titular no decorrer de 2017, meu contrato foi rescindido. Fiquei apenas 5 meses, e estava de novo na mesma situação, agora de quarentena e sem poder fazer concursos de substituto em federais, que são o grosso do ensino superior jurídico em Minas Gerais. Como não tinha doutorado, dificilmente poderia fazer para titular. No meio de tudo isso, eu e Keylla resolvemos casar, queríamos constituir família (quatro filhos, né amor? rs). Entendi que precisava de estabilidade financeira para atingir esse objetivo e comecei a estudar para concursos. Depois de muita coisa, entregamos a sala que alugávamos em agosto de 2018, passando a tocar os processos e cuidar das causas de casa, em home office ou na sala da OAB, para tentar economizar. E aí veio a gangorra emocional.
Aprovado para Escrevente Técnico Judiciário do TJSP (interior), fora das vagas. Concurso travou (e continua travado). Aprovado na primeira fase de analista do MPSP. Reprovado na primeira fase do TJSP por um ponto. Semana triste, desânimo, volta aos estudos por causa da segunda fase do Analista do MPSP que era no mesmo fim de semana. Aprovado na primeira fase do TJPR. Reprovado na primeira fase do TJSC por um ponto. Aprovado nas primeiras fases da Defensoria de SP e na Defensoria de MG. Aprovado na segunda fase de Analista do MPSP. Reprovado por 0,1 na sentença cível do TJPR. Aprovado para a fase oral da DPESP. Aprovado na primeira fase de promotor do MPSP. Coincidência com a segunda fase da DPEMG. Recurso provido, aprovado para a prova oral do TJPR. Exatamente um ano após o dia do casamento, estava fazendo o primeiro dia da segunda fase do TJPR. Exatamente um ano após a vistoria e rescisão do aluguel, estava fazendo a prova oral do TJPR. Exatamente no dia do aniversário do meu pai, um dos meus maiores apoiadores, estava fazendo a prova oral da DPESP. Aprovado para a oral do MPSP. Aprovado em definitivo nos concursos do TJPR e DPESP. Desisti da oral do MPSP. Nomeado como Analista Jurídico do MPSP, desisti da vaga. Nomeado e empossado na DPESP, onde hoje estou.
No fim, o balanço. A experiência de monitor e pesquisador me ajudou a melhor escrever nas questões discursivas, bem como a compreender e escrever sobre humanística e constitucional. A experiência na advocacia me ajudou a resolver várias questões mais práticas de civil, consumidor e processo civil durante o período, bem como a ter mais tranquilidade para trabalhar com as peças de defensor e a entender o caso e concretizar as sentenças cíveis no TJPR. A experiência de defender a tese de mestrado e também a experiência como professor substituto me deram mais tranquilidade e serenidade para encarar a tão temida prova oral. Em suma, cada um tem seu tempo. Meus pais trocaram de área e de carreira e passaram em concurso público que não tinha nada a ver com a formação deles com 47 e 50 anos. Tudo o que você fez ou faz na sua vida, seja no Direito ou não, vai ter relevância alguma hora pra você, vai te ajudar a lidar, suportar e avançar nas dificuldades. Viva suas experiências. Faça, erre, se reorganize, se reerga, lute, reflita, persista, vença. A vida é feita de picos e vales. Deus realmente escreve por linhas tortas.
BIBLIOGRAFIA
Quais livros/autores ou cursos/cadernos indicaria para os estudos nas matérias abaixo (se possível, especificar o professor de cada matéria nos cadernos/cursos):
Direito Administrativo – Manual de Direito Administrativo do Matheus Carvalho
Direito Ambiental – Sinopse de Ambiental do Frederico Amado (eu li partes pontuais que considero mais relevantes no manual, como responsabilidade por dano ambiental, princípios e etc)
Direito Civil – Manuais de Direito Civil do Flávio Tartuce e do Cristiano Chaves
Direito Constitucional – Manual do Marcelo Novelino e alguns temas mais profundos, quase de humanística, do Bernardo Gonçalves Fernandes
Direito do Consumidor – Direito do Consumidor do Leonardo Garcia e vi aulas de revisão pra primeira fase do Landolfo Andrade do G7 (são poucas e valem muito a pena)
Direito do Eleitoral – Li só a lei seca, informativos do Marcinho e alguns pontos no livro do Jaime Barreiros e materiais do MEGE
Direito Empresarial – Manual do André Santa Cruz e leitura de lei seca e informativos.
Direito da Criança e do Adolescente – Valter Kenji Ishida e leitura recorrente do ECA
Direito Penal – Parte Geral – Manuais do Rogério Sanches e Cleber Masson
Direito Penal – Parte Especial do Código Penal – Manuais do Rogério Sanches e Cleber Masson
Direito Penal – Legislação extravagante - Manual do Renato Brasileiro e aulas do Vinicius Marçal sobre pontos específicos, como crime organizado
Direito Processual Civil – Manual do Daniel Amorim Assumpção Neves
Direito Processual Penal – Manual do Renato Brasileiro
Direito Tributário – Manual do Ricardo Alexandre
Humanística – Materiais de cursinhos voltados pras bancas, como os do CEI, MEGE e OUSE SABER. Noções Gerais de Humanística do João Lordelo.
Sentença Cível – Materiais de cursinhos voltados pra essa fase, tem vários bons. Li o curso de sentença cível do Fabrício Lunardi.
Sentença Penal – Materiais de cursinhos voltados para essa fase, tem vários bons. Li o curso de sentença penal do Luiz Otávio Resende.
Qualquer livro/curso que indique para o concurso que não se encaixa nas matérias acima (ex: livro de discursiva da juspodivm que tem várias matérias, vade-mécum de jurisprudência etc) -
Vade Mecum de Jurisprudência do Marcinho. Vade Mecum Acadêmico de Direito da Rideel. Não gostei muito de ler revisaços, deixei de lado.